Sistema de Combustível de aeronaves
O sistema de combustível de uma aeronave desempenha um papel vital na operação segura e eficiente do voo. Ele é responsável por armazenar o combustível nos tanques e garantir sua entrega contínua ao motor. Existem diferentes métodos de alimentação do motor, variando desde a simples gravidade até a utilização de bombas pressurizadas.

Neste post, exploraremos os principais componentes e funcionalidades do sistema de combustível das aeronaves, abrangendo desde os tipos de tanques até os procedimentos de abastecimento e filtragem do combustível.
Sistema de Combustível de Aeronaves
O sistema de combustível de aeronaves tem como finalidade armazenar o combustível nos tanques e fornecê-lo de forma ininterrupta e adequada para o motor. Existem duas formas de alimentação do motor a partir dos tanques: por gravidade e por pressão.
Alimentação por Gravidade
Na alimentação por gravidade, o combustível é transferido para o motor simplesmente pela ação da força gravitacional. Esse tipo de alimentação é comumente utilizado em aeronaves de pequeno porte com asa alta e motor de baixa potência. Os tanques de combustível são posicionados acima do motor, permitindo que o combustível flua do tanque para o carburador devido à gravidade. Um filtro é utilizado para limpar o combustível antes de chegar ao carburador, e um dreno é instalado para remover água e sedimentos.

Alimentação por Pressão
Na alimentação por pressão, utilizada em aeronaves de asa baixa ou com motores de alta performance, os tanques de combustível ficam no mesmo nível ou abaixo do motor, impossibilitando a alimentação por gravidade. Nesse caso, um sistema de alimentação por pressão é empregado. Uma bomba mecânica principal, acionada pelo motor, fornece combustível sob pressão para o motor. Em casos de falha da bomba mecânica, uma bomba auxiliar elétrica entra em ação para garantir o fornecimento de combustível sob pressão para o motor.

Tanques de Combustível
Os tanques de combustível são componentes essenciais das aeronaves, responsáveis por armazenar o combustível necessário para o funcionamento do motor. Geralmente, esses tanques são localizados dentro da asa ou da fuselagem da aeronave. Existem diferentes tipos de tanques de combustível, sendo os principais: rígido, flexível e integral.

Indicadores e Instrumentos
Indicador de Quantidade de Combustível (Liquidômetro)
O Indicador de Quantidade de Combustível, também conhecido como Liquidômetro, é um instrumento fundamental para o piloto, pois fornece informações precisas sobre a quantidade de combustível presente nos tanques da aeronave.
Existem diferentes tipos de indicadores de quantidade de combustível, desde os mais rudimentares, como a bóia com haste visível ao piloto, até os mais avançados, como os liquidômetros elétricos que funcionam com sinais elétricos provenientes de sensores ou transmissores dentro dos tanques.
Esses indicadores são essenciais para o gerenciamento do voo, permitindo ao piloto monitorar o nível de combustível e planejar adequadamente a rota e as paradas para reabastecimento.

Indicador de Fluxo de Combustível
O Indicador de Fluxo de Combustível é responsável por mostrar o consumo horário de combustível, geralmente em galões ou litros por hora. Este instrumento funciona com sinais elétricos provenientes de um sensor de fluxo instalado na tubulação de combustível. Ele é especialmente útil para o piloto monitorar o consumo de combustível durante o voo e fazer ajustes necessários para otimizar a eficiência do motor.
Vale ressaltar que em aviões de pequeno porte, pode ser que este instrumento não esteja presente devido às características da aeronave ou à simplicidade do sistema de combustível.

Equipamentos Adicionais
Injetor de Partida (“Primer” ou Bomba de Escorva)
O injetor de partida, também conhecido como “Primer” ou Bomba de Escorva, é uma pequena bomba manual ou elétrica que tem a função de injetar uma pequena quantidade de combustível no tubo de admissão do motor. Essa ação facilita a partida dos motores equipados com carburador convencional, especialmente em dias frios ou quando o motor está difícil de ser iniciado.
Em aeronaves que não possuem um injetor de partida específico, a manete de potência pode ser acionada uma ou mais vezes antes da partida. Isso faz com que a bomba de aceleração do carburador injete gasolina no tubo de Venturi, auxiliando no processo de partida do motor. Essa ação prévia de acionar a manete de potência ajuda a garantir que haja combustível suficiente no sistema para uma partida mais suave e eficiente.

Válvula de Corte e Seletora
A válvula de corte e seletora é um componente acionado pelo piloto para selecionar o tanque de combustível a ser utilizado ou para cortar o fluxo de combustível. Geralmente, essa válvula possui quatro posições: LEFT (tanque esquerdo), RIGHT (tanque direito), BOTH (ambos os tanques) e OFF (corte total do combustível).
As posições LEFT e RIGHT são utilizadas para selecionar o tanque específico a ser utilizado, o que é útil para corrigir desequilíbrios de combustível entre os tanques, caso um esteja mais pesado que o outro. A posição BOTH é a posição normal de operação, onde o combustível é retirado igualmente de ambos os tanques.
Em aeronaves bimotores, cada motor possui um tanque de combustível dedicado. Isso permite a prática da alimentação cruzada, onde o motor esquerdo pode ser alimentado pelo tanque direito e vice-versa. Esse sistema de alimentação cruzada é uma medida de segurança que garante que, em caso de falha em um dos motores, o combustível normalmente fornecido a esse motor inoperante possa ser disponibilizado para o outro motor em funcionamento, aumentando a segurança e a capacidade de manobra da aeronave.

Filtros
Os filtros desempenham um papel crucial no sistema de combustível das aeronaves, sendo responsáveis por reter impurezas sólidas que possam estar presentes no combustível. Esses filtros podem ser compostos por materiais como tela metálica, papel, fibra sintética ou outros materiais filtrantes, dependendo da necessidade de filtragem específica.
Alguns filtros possuem um corpo transparente, o que facilita a visualização do combustível e das impurezas retidas, permitindo uma inspeção visual mais eficaz. Um filtro importante está localizado na parte mais baixa da fuselagem, próximo ao motor, e geralmente possui um dreno para a inspeção do combustível. Esse dreno permite que o piloto retire uma amostra do combustível para verificar se há presença de contaminação, principalmente água, no sistema.
A contaminação da gasolina com água é um problema comum devido à condensação da umidade atmosférica dentro do tanque de combustível. A água tende a se acumular nas partes mais baixas do sistema de combustível, podendo levar certo tempo até chegar ao motor. A presença de água no sistema de combustível pode causar sérios problemas, como a parada do motor, caso a água atinja o sistema de formação de mistura.
Por isso, é mandatório retirar uma amostra do combustível e examiná-la antes do voo, a fim de garantir a segurança e o bom funcionamento do motor durante a operação da aeronave. Essa prática de verificação prévia do combustível ajuda a prevenir possíveis falhas e garante a integridade do sistema de combustível.

Abastecimento de Combustível
Durante o abastecimento de combustível em aeronaves, é essencial tomar diversas precauções para garantir a segurança e a integridade do sistema de combustível. Algumas dessas precauções incluem:
Verificação dos bocais: É fundamental certificar-se de que os bocais de abastecimento estejam corretamente travados para evitar a perda de combustível e a entrada de impurezas e água nos tanques de combustível. Um travamento adequado dos bocais ajuda a manter a integridade do sistema e evita possíveis contaminações.
Aterramento: Antes de iniciar o abastecimento, tanto a aeronave quanto o equipamento de abastecimento devem ser devidamente aterrados. Isso é feito para evitar a ocorrência de faíscas causadas pela eletricidade estática, que poderiam resultar em um risco de incêndio durante o processo de abastecimento. O aterramento é uma medida de segurança essencial para proteger a aeronave, os operadores e o ambiente.
Combustível correto e livre de água: Em muitos aeródromos, o sistema de abastecimento de aviões fornece combustível que já foi filtrado e está livre de água. No entanto, em situações em que isso não é garantido, é necessário adotar medidas apropriadas, como o uso de filtros de camurça, para separar a água do combustível.
Manter os tanques de combustível cheios durante paradas longas é uma prática recomendada, pois ajuda a reduzir o volume de ar nos tanques, minimizando a condensação de umidade e a formação de água. Isso contribui para manter a qualidade do combustível e prevenir possíveis problemas de contaminação que poderiam afetar o desempenho e a segurança da aeronave.

O entendimento do sistema de combustível é vital para garantir a segurança e a eficácia das operações aéreas. Desde a escolha adequada dos tanques e métodos de alimentação até os cuidados rigorosos durante o abastecimento, cada componente e procedimento desempenha um papel essencial na prevenção de falhas e na manutenção do equilíbrio e desempenho da aeronave.
Com a aplicação correta dessas práticas, é possível assegurar voos mais seguros e eficientes, reduzindo o risco de incidentes relacionados ao combustível.
GLOSSÁRIO
Abastecimento de Combustível
Conjunto de procedimentos para encher os tanques de forma segura, evitando contaminação e riscos de incêndio. Inclui verificar bocais, usar aterramento e confirmar o tipo correto de combustível.
Alimentação por Gravidade
Método em que o combustível desce dos tanques para o carburador apenas pela gravidade. É comum em aeronaves de asa alta e menor potência, com tanques acima do motor.
Alimentação por Pressão
Método que usa bombas para enviar combustível ao motor quando os tanques estão no mesmo nível ou abaixo dele. É típico de aeronaves de asa baixa ou maior performance.
Alimentação Cruzada
Função presente em aeronaves multimotor que permite alimentar um motor com o combustível do tanque do lado oposto. Ajuda a manter a operação segura em caso de falhas ou desequilíbrios.
Aterramento
Ligação elétrica controlada entre a aeronave e o equipamento de abastecimento para dissipar eletricidade estática e evitar faíscas durante o abastecimento.
Bocal de Abastecimento
Abertura por onde o combustível entra no tanque. Deve ser bem vedado e corretamente travado para impedir entrada de água e impurezas.
Bomba Auxiliar Elétrica
Bomba elétrica de apoio que garante o fluxo de combustível quando a bomba mecânica falha ou durante a partida do motor.
Bomba de Aceleração
Dispositivo do carburador que injeta combustível extra quando a manete é acionada rapidamente, ajudando na resposta do motor e na partida em algumas situações.
Bomba Mecânica
Bomba acionada pelo próprio motor para fornecer combustível sob pressão ao sistema durante a operação normal.
Carburador
Componente que mistura ar e combustível na proporção correta para a combustão em motores com carburação. Recebe combustível por gravidade ou pressão.
Condensação
Formação de água por umidade que se acumula no espaço de ar do tanque, especialmente quando ele está parcialmente cheio. Pode contaminar o combustível.
Consumo de Combustível
Quantidade de combustível usada por hora de voo. É monitorada para planejar autonomia e eficiência.
Desbalanceamento de Combustível
Diferença de quantidade entre tanques que pode afetar o equilíbrio da aeronave. Pode ser corrigido selecionando o tanque mais cheio ou usando alimentação cruzada.
Dreno (do Sistema de Combustível)
Válvula na parte baixa do sistema usada para coletar amostras e retirar água e sedimentos antes do voo.
Eletricidade Estática
Carga acumulada que pode gerar faíscas durante o abastecimento. O aterramento elimina esse risco.
Filtros
Elementos que retêm partículas e impurezas do combustível. Podem ser de tela, papel ou fibra e, em alguns casos, têm corpo transparente para inspeção visual.
Filtragem do Combustível
Processo de remover sujeiras e água do combustível antes de chegar ao motor, aumentando a confiabilidade do sistema.
Fluxo de Combustível
Movimento do combustível pelas linhas do sistema até o motor. É medido para acompanhar consumo e ajustar a operação.
Formação de Mistura
Etapa em que combustível e ar são combinados na proporção correta para a combustão eficiente no motor.
Indicador de Fluxo de Combustível
Instrumento que mostra o consumo horário (litros/hora ou galões/hora), geralmente a partir de um sensor instalado na linha de combustível.
Indicador de Quantidade de Combustível (Liquidômetro)
Instrumento que informa ao piloto quanto combustível há nos tanques, podendo ser do tipo mecânico simples ou elétrico com sensores.
Injetor de Partida (Primer/Bomba de Escorva)
Pequena bomba manual ou elétrica que injeta combustível no coletor de admissão para facilitar a partida, sobretudo em dias frios.
Manutenção do Sistema de Combustível
Ações preventivas como drenar amostras, inspecionar filtros, verificar vedação de bocais e manter tanques cheios em paradas longas para reduzir condensação.
Pressão (no Sistema)
Força com que o combustível é enviado ao motor em sistemas por bomba. A pressão adequada evita falhas de alimentação.
Sensor de Fluxo
Dispositivo na linha de combustível que envia sinais ao indicador de fluxo para mostrar o consumo em tempo real.
Sistema de Combustível
Conjunto de tanques, linhas, bombas, válvulas, filtros e instrumentos que armazena, transporta e monitora o combustível até o motor com segurança.
Tanque Flexível
Recipiente maleável de borracha ou material sintético instalado no interior da aeronave. É leve e se adapta a espaços internos.
Tanque Integral
Parte da estrutura (geralmente a asa) adaptada para servir como tanque selado. Aproveita o próprio espaço estrutural da aeronave.
Tanque Rígido
Tanque metálico independente instalado na asa ou fuselagem. É robusto e de fácil remoção para manutenção.
Tanques de Combustível
Local onde o combustível é armazenado. Podem ser rígidos, flexíveis ou integrais, dependendo do projeto da aeronave.
Umidade (no Sistema)
Água que entra por condensação ou contaminação durante o abastecimento. Deve ser removida no dreno por segurança.
Válvula de Corte e Seletora
Componente acionado pelo piloto para escolher o tanque (LEFT/RIGHT/BOTH) ou interromper o fluxo (OFF), ajudando no balanceamento e na segurança.
Venturi
Garganta do carburador onde a velocidade do ar aumenta e a pressão cai, facilitando a aspiração do combustível para formar a mistura.
Volume de Ar no Tanque
Espaço vazio acima do combustível. Quanto menor esse volume durante paradas longas, menor a condensação de umidade e o risco de água no sistema.
FAQ
P: Qual a diferença prática entre alimentação por gravidade e por pressão?
R: Na gravidade, o combustível desce dos tanques para o carburador sem bombas, ideal em asa alta. Na pressão, bombas enviam o combustível ao motor, necessário quando os tanques estão no mesmo nível ou abaixo do motor.
P: Por que devo manter os tanques cheios em paradas longas?
R: Para reduzir o volume de ar dentro do tanque e, assim, diminuir a condensação de umidade que vira água e contamina o combustível.
P: Como identificar e retirar água do sistema antes do voo?
R: Coletando amostras no dreno dos pontos mais baixos do sistema. Se houver água, repita a drenagem até que a amostra esteja limpa e homogênea.
P: O que o indicador de fluxo me ajuda a decidir em voo?
R: Ele mostra o consumo horário, permitindo ajustar potência e mistura para economizar combustível e confirmar a autonomia planejada.
P: Quando usar a posição BOTH da válvula seletora?
R: Em operação normal de monomotores, BOTH retira combustível de ambos os tanques, ajudando a manter o balanceamento. Em desequilíbrio, pode-se selecionar temporariamente LEFT ou RIGHT.
P: Em que situação a alimentação cruzada é útil?
R: Em aeronaves multimotor, quando há falha de uma bomba/motor ou desequilíbrio de combustível, é possível alimentar um motor com o tanque do outro lado para manter a segurança e o equilíbrio.
P: Qual o papel do primer (injetor de partida) em dias frios?
R: Ele injeta pequena quantidade de combustível na admissão para facilitar a ignição inicial quando a vaporização está prejudicada pelo frio.
P: Por que o aterramento é obrigatório no abastecimento?
R: Para dissipar eletricidade estática e evitar faíscas que possam incendiar vapores de combustível.
P: Onde geralmente ficam os filtros mais importantes?
R: Há filtros ao longo das linhas e um filtro/drain próximo ao ponto mais baixo do sistema, facilitando inspeção e retirada de água e sedimentos.
P: O que fazer se o indicador de quantidade falhar?
R: Use procedimentos de contingência: calcule autonomia pelo tempo/consumo, monitore o comportamento do motor e, se necessário, pouse para inspeção. A manutenção deve verificar sensores, fiação e o próprio indicador.
P: Posso confiar apenas no “vidro” do tanque para saber o nível?
R: Em aeronaves simples, visores podem existir, mas o ideal é sempre cruzar informações com o indicador de quantidade e a medição pré-voo.
P: Por que algumas aeronaves pequenas não têm indicador de fluxo?
R: Por simplicidade do projeto e custo. Ainda assim, o piloto pode estimar consumo com tabelas do fabricante e relógio de voo.
P: O que causa contaminação por água mesmo sem erro no abastecimento?
R: A própria condensação do ar úmido dentro do tanque, especialmente quando ele está parcialmente cheio e a temperatura varia.
P: Como a válvula seletora ajuda no balanceamento em voo?
R: Selecionando temporariamente o tanque mais cheio, você consome dele até equilibrar as quantidades entre os lados.
P: Quais são os principais riscos de operar com filtros saturados?
R: Queda de pressão/fluxo de combustível, falhas de motor e possibilidade de parada por obstrução. A manutenção preventiva evita esses problemas.