O que é EWIS – Electrical Wiring Interconnection System?
Por volta de 1970 iniciou-se um programa de segurança relacionado ao envelhecimento das aeronaves focado na estrutura, sabendo da experiência de fadiga em componentes estruturais e outras degradações associadas com a idade e frequência de uso ou seja tempo e ciclos de uma aeronave.
No início, a fiação e outras partes elétricas de uma aeronave eram consideradas menos ameaçadas que a parte estrutural, e antes dos acidentes de aviação do voo 800 da TWA e da SwissAir 111, a fiação da aeronave era uma preocupação menor.
Na década de 1980, aumentaram as preocupações sobre a segurança da fiação devido a acidentes e incidentes.
As investigações encontraram, em comum, fatores degradantes da fiação elétrica nos sistemas do avião.
Investigações sobre questões da fiação foram feitas pela indústria, autoridades de aviação civil e outros órgãos do governo.

Investigações apontaram para várias falhas ocultas nos sistemas de aeronaves relacionada a fiação, dentre estes fatores que afetam a fiação podemos citar como:
Projeto da aeronave, manutenção, treinamento, instalação, ambiente, tempo dentre outros fatores.
Ao longo dos anos ficou evidente várias ocorrências em aeronaves relacionados diretamente com as cablagens elétricas e os seus sistemas, resultando em:
- Fatalidades humanas.
- Danos materiais.
- Aumento de custos para as operadoras.
- Perda de prestígio das operadoras e fabricantes.
DEFINIÇÃO DE EWIS
Qualquer fio, dispositivo de fiação, ou a combinação destes, incluindo os dispositivos de terminação, instalado em qualquer área do avião, com a finalidade de transmissão de energia elétrica entre dois ou mais pontos de terminação pretendido. . .
Em outras palavras: “Fios e componentes associados passaram a ser tratados como um sistema de avião.“

Um EWIS não é:
Os equipamentos elétricos ou aviônicos que são habilitados para condições do ambiente e procedimentos de testes.
Aparelhos elétricos portáteis que não fazem parte do projeto do avião.
EWIS – FATORES DE DEGRADAÇÃO

LOCALIZAÇÃO DE INSPEÇÕES AO EWIS
Asas:
- Exposição de EWIS em bordos de ataque ou fuga durante a operação de slat/flap.
Motor/APU/Empenagem:
- Calor, vibração, contaminação química
- Zonas de elevada manutenção


Trem de pouso & alojamento do trem:
- Meio ambiente, vibrações e contaminação química
Painéis elétricos/unidades de substituição linha (LRU):
- Áreas de alta densidade de cablagem e elevada manutenção
- Possibilidade para danificar EWIS
Baterias:
- Contaminação química e corrosão
Geradores elétricos:
- Terminais e sinais de superaquecimento
Debaixo de galleys e toilets:
- Sujeito a contaminação por líquidos

Toilets

Galleys
Superfícies de comando e portas
Superfícies de comando e portas
- Mexer ou dobrar conjuntos de cablagens
Compartimento de carga ou Porão de carga:
Alta atividade de manutenção

OUTRAS FONTES DE CONTAMINAÇÃO
Inibidor de corrosão

Limalha metálica (proveniente de manutenção)

FOG – Foreign objects


FATORES HUMANOS
Os fatores humanos são um aspeto latente em toda a atividade aeronáutica e com um impacto direto no cumprimento dos padrões de segurança na aviação.
- A motivação e o empenho são essenciais para uma correta realização das tarefas de manutenção evitando dessa forma incidentes/acidentes.
- Através dos fatores humanos são identificados aspetos que influenciam a capacidade da pessoa em cumprir com as normas estabelecidas durante o desempenho das tarefas.
- Constatou-se que mais de 70% dos acidentes aeronáuticos com perda total foram originados através do erro humano ou fatores humanos.
- A conscientização dos funcionários em relação aos fatores humanos é um passo essencial para a melhoria das práticas de trabalho nas organizações.
Existem três fatores humanos principais que influenciam as tarefas relacionadas ao EWIS:
- Fadiga
- Lei de Murphy
- Complacência
Fadiga: Excesso de horas de trabalho e de turnos, especialmente com períodos múltiplos ou horas extras adicionais, pode levar à ocorrência de problemas. Os indivíduos devem estar conscientes dos perigos da diminuição do desempenho e as suas responsabilidades pessoais.
Os sintomas da fadiga podem incluir:
- Diminuição da percepção (visão, audição, etc) e uma falta geral de consciência.
- Diminuição das habilidades motoras e um maior tempo de reação.
- Problemas com a memória de curto prazo.
- Concentração Canalizada – fixação numa única questão possivelmente sem importância, falhando em manter uma visão geral.
- Qualquer défice de sono que seja identificado, terá de ser recuperado ou o desempenho começará a degradar-se levando à ocorrência do erro humano.
Lei de Murphy: Aponta que existe uma tendência entre os seres humanos para a complacência.
A crença de que um acidente só acontece aos outros pode representar um problema para o indivíduo durante qualquer tarefa de inspeção ou de manutenção em zonas ou sistemas.
Complacência: Um técnico de manutenção pode pular etapas ou deixar de prestar a devida atenção aos passos de um procedimento, especialmente em caso de inspeção de algo raramente encontrado danificado, fora de tolerância ou com qualquer anomalia.
Aplica-se especialmente em contexto de uma inspeção visual geral. Fazendo suposições do gênero: “eu já executei esse trabalho milhares de vezes!”. É obrigatório consultar os procedimentos.
Para níveis baixos de atividade, o nosso mecanismo de atenção não está particularmente ativo e a capacidade de desempenho é baixa, como resultado de a complacência e do tédio.
PROCEDIMENTOS DE PROTEÇÃO DURANTE A MANUTENÇÃO

Você deve aplicar, seguir os procedimentos de proteção aos componentes do EWIS (Sistema de Interconexão de Fiação Elétrica) durante o reparo, manutenção ou modificações.
A fiação e seus componentes relacionados (cobertura de proteção, conectores, abraçadeiras, conduítes) frequentemente são a parte mais sensível de uma instalação ou um sistema.

PROCESSO DE LIMPEZA
Boas práticas de manutenção na fiação deve conter uma filosofia de limpeza “protect, clean as you go“. Em outras palavras, os cuidados devem ser tomados para proteger as cablagens e conectores durante o trabalho, e assegurar que todas as limalhas, e contaminação são limpos após o trabalho estiver concluído.
Esta filosofia é uma abordagem proativa para a saúde do sistema de fiação. Ao sistema de fiação deve ser dada atenção especial quando a manutenção está sendo realizada nele, ou em torno dele.
Isto é especialmente verdadeiro quando realizar reparos estruturais, trabalhar em STCs, ou outras modificações.



MATERIAL DE APOIO
25.1701-1 – Certification of Electrical Wiring Interconnection Systems
Glossário EWIS (Electrical Wiring Interconnection System)
Use a lista clicável abaixo para navegar entre os termos.
- Abrasão
- Amarração (Lacing)
- Arco elétrico (Arcing)
- Arc Tracking (Rastreamento de arco)
- AWG (Bitola do fio)
- Bonding (Aterramento de estruturas)
- Bucha/Passa-fio (Grommet)
- Bundles (Feixes de cabos)
- Clean as you go (“limpeza contínua”)
- Clamp (Abraçadeira)
- Contaminação
- Continuidade elétrica
- Conector
- Emenda (Splice/Butt splice)
- EWIS
- Identificação/Rotulagem
- Isolação
- Jogo/Margem mínima (Clearance)
- Raio mínimo de curvatura
- Roteamento (Routing)
- Separação/Segregação
- Shielding (Blindagem)
- Suportes e fixação
- Terminação
- Zonas/Condições de ambiente
Abrasão
Desgaste do isolamento do fio por atrito com estrutura, rebites, bordas ou outros cabos. É uma das causas mais comuns de falhas em EWIS e deve ser prevenida com bom roteamento, proteção (buchas, sleeves) e fixação adequada.
Amarração (Lacing)
Método de prender fios dentro de um feixe usando cordões ou fitas específicas. Mantém a organização, reduz vibração e evita atrito entre cabos e estrutura.
Arco elétrico (Arcing)
Descarga elétrica não intencional entre condutores ou para a estrutura, geralmente causada por dano de isolamento, umidade ou contaminação. Pode iniciar fogo e comprometer sistemas críticos.
Arc Tracking (Rastreamento de arco)
Processo em que o isolamento danificado carboniza e cria um “caminho” condutivo sobre a superfície, facilitando arcos repetitivos. Exige substituição do trecho afetado e eliminação da causa raiz.
AWG (Bitola do fio)
Padrão americano que indica o diâmetro do condutor. Números menores significam fios mais grossos, com maior capacidade de corrente e menor resistência.
Bonding (Aterramento de estruturas)
Interligação elétrica controlada entre componentes metálicos da aeronave para manter potencial comum e caminho seguro de retorno de corrente e descargas (p.ex., raios), reduzindo interferências.
Bucha/Passa-fio (Grommet)
Peça (normalmente de borracha ou material equivalente) instalada em furos e passagens para proteger o cabo contra bordas cortantes e reduzir abrasão.
Bundles (Feixes de cabos)
Conjunto organizado de fios e cabos amarrados e roteados em conjunto. Devem respeitar raio de curvatura, fixação adequada, peso e separação de outras classes de sistemas.
Clean as you go (“limpeza contínua”)
Filosofia de manutenção que exige limpar e remover detritos, tiras de isolamento, cavacos, poeira e fluídos durante cada etapa do trabalho, evitando que contaminantes permaneçam nos feixes.
Clamp (Abraçadeira)
Suporte que fixa o feixe à estrutura. O tipo e o espaçamento corretos evitam vibração, chafing (atrito) e transferência de carga para conectores e terminais.
Contaminação
Presença de fluídos, umidade, poeira, cavacos metálicos ou produtos químicos em contato com os cabos. Aumenta o risco de arco elétrico, corrosão e degrada o isolamento.
Continuidade elétrica
Condição em que o caminho elétrico permanece íntegro, sem circuitos abertos ou resistências anormais. É verificada por testes (ohmímetro, megômetro quando aplicável).
Conector
Dispositivo que permite unir chicotes/feixes, possibilitando montagem e manutenção. Deve ser corretamente selecionado, travado, identificado e protegido contra umidade e vibração.
Emenda (Splice/Butt splice)
Junta entre dois trechos de fio para restabelecer continuidade. Deve usar componentes aprovados, ferramentas de crimpagem corretas e proteção térmica/isolante quando especificado.
EWIS (Electrical Wiring Interconnection System)
Conjunto de fios, cabos, conectores, terminais, barras coletoras, suportes, abraçadeiras e demais dispositivos de fiação instalados para transmitir energia, dados e sinais entre pontos de terminação pretendidos na aeronave.
Identificação/Rotulagem
Marcação padronizada de cabos, feixes e conectores (códigos, cores ou sleeves) para facilitar inspeção, rastreabilidade e evitar ligações incorretas.
Isolação
Material dielétrico que cobre o condutor, impedindo curtos e descargas. Sua integridade é crítica; danos por calor, solventes ou abrasão devem ser corrigidos.
Jogo/Margem mínima (Clearance)
Distância mínima entre cabos e partes móveis, fontes de calor, linhas de fluído ou bordas. Evita contato, aquecimento excessivo e riscos de falha.
Raio mínimo de curvatura
Menor raio permitido ao dobrar cabos/feixes sem danificar condutores e isolação. Respeitar esse limite evita microtrincas, fadiga e perda de desempenho.
Roteamento (Routing)
Trajeto planejado dos feixes pela aeronave. Deve minimizar cruzamentos, evitar zonas quentes/úmidas e manter acessibilidade para inspeção e manutenção.
Separação/Segregação
Manter cabos de diferentes funções ou níveis de energia afastados (p.ex., potência x sinais) e distantes de linhas de combustível/oxigênio. Reduz interferência e riscos de propagação de falha.
Shielding (Blindagem)
Camada condutiva (malha/folha) ao redor do cabo para reduzir interferência eletromagnética e proteger sinais sensíveis. Requer aterramento correto.
Suportes e fixação
Conjunto de clamps, braçadeiras, clipes e guias que mantêm o feixe estável. O espaçamento e o torque corretos evitam vibração e transferência de esforço aos conectores.
Terminação
Ponto final onde o fio se conecta (terminais, barramentos, pinos de conector). Exige crimpagem e inspeção adequadas para garantir resistência mecânica e elétrica.
Zonas/Condições de ambiente
Classificação informal das áreas em que os feixes operam (quente, úmida, contaminada, vibratória). Orienta seleção de materiais, proteção adicional e intervalo de inspeções.
FAQ — Perguntas Frequentes sobre EWIS
P: O que exatamente entra na definição de EWIS?
R: Tudo que compõe a fiação da aeronave: fios, cabos, conectores, terminais, barras coletoras, abraçadeiras, suportes e dispositivos associados, instalados para transmitir energia, dados e sinais entre pontos pretendidos.
P: Por que “separação/segregação” de cabos é tão enfatizada?
R: Para evitar interferências e reduzir riscos. Cabos de potência podem induzir ruído em cabos de sinais; feixes próximos de linhas de combustível ou fontes de calor aumentam a probabilidade e a severidade de incidentes.
P: O que é “clean as you go” e por que é cobrado na manutenção?
R: É a prática de limpar continuamente durante o trabalho. Remover detritos e fluídos imediatamente evita contaminação nos feixes, reduz risco de arco elétrico e facilita a inspeção.
P: Quais são os danos mais comuns observados em feixes EWIS?
R: Abrasão do isolamento, cortes, marcas de amassamento por fixação incorreta, calor excessivo, contaminação por fluídos e umidade, além de danos em conectores por torque inadequado.
P: Quando uma emenda (splice) é aceitável?
R: Somente quando o fabricante permite e usando componentes aprovados, ferramenta de crimpagem correta e proteção/isolação especificadas. Em áreas críticas, a substituição do trecho é a regra.
P: O que é “arc tracking” e por que é perigoso?
R: É a formação de trilhas condutivas no isolamento danificado, que facilita arcos elétricos recorrentes. Pode iniciar fogo e levar à perda de sistemas essenciais, exigindo reparo imediato e eliminação da causa.
P: Como escolher a bitola (AWG) adequada?
R: Pela corrente máxima, queda de tensão admissível, temperatura de operação e ambiente. Fios mais grossos (AWG menor) suportam mais corrente e têm menos queda de tensão.
P: Por que o raio mínimo de curvatura importa tanto?
R: Curvar abaixo do limite causa fadiga e microtrincas no condutor e no isolamento, aumentando a chance de falhas e aquecimento local.
P: Blindagem (shielding) resolve todo tipo de interferência?
R: Não. Ela ajuda bastante, mas requer aterramento adequado e, muitas vezes, segregação física e roteamento correto para ser realmente eficaz.
P: Qual é a boa prática para fixação com clamps?
R: Usar o tipo aprovado para o ambiente (temperatura/umidade), respeitar espaçamentos recomendados, evitar esmagar o feixe e impedir que o peso do chicote recaia sobre conectores.
1 Comentário
Muito bom esse artigo sobre o sistema EWIS, legal! Espero ver mais artigos assim publicados para continuar estudando e aprendendo com vocês. Obrigado.