Sistema de Proteção Contra Fogo em aeronaves

A segurança a bordo das aeronaves é uma prioridade máxima na aviação, e o sistema de proteção contra incêndio nos motores desempenha um papel crucial nesse contexto. Este sistema, sofisticado e altamente integrado, é projetado para detectar e extinguir incêndios de forma eficiente, garantindo a proteção tanto da tripulação quanto dos passageiros.

Além disso, o conhecimento sobre as diferentes categorias de incêndios e os agentes extintores apropriados é essencial para a correta gestão de emergências.

Neste post, abordaremos os principais componentes e procedimentos relacionados ao sistema de proteção contra incêndio em motores, categorias de incêndio, agentes extintores e as melhores práticas para o manejo de incidentes tanto em voo quanto no solo.

Descrição do Sistema de Proteção Contra Incêndio em Motores

O sistema de proteção contra incêndio em motores é dividido em duas seções principais:

a) Sistema de Detecção de Superaquecimento e Incêndio: Este sistema utiliza sensores térmicos estrategicamente posicionados nas áreas com maior risco de incêndio. Existem dois tipos de sensores: os locais, que monitoram pontos específicos, e os sensores contínuos, em formato de fio, que cobrem áreas mais amplas ao longo de sua extensão.

Ao detectar níveis de calor acima do normal, o sistema ativa imediatamente um alarme sonoro e visual na cabine de comando, alertando a tripulação sobre a condição anormal.

b) Sistema de Extinção de Incêndio: Este sistema pode ser acionado automaticamente ou manualmente pelo piloto. Os componentes principais incluem as garrafas de agente extintor, a tubulação, as válvulas de controle e os aspersores, que são responsáveis pela distribuição do agente extintor para suprimir o fogo de maneira eficaz.

Fonte: Livro Aeronaves e Motores – Conhecimentos Técnicos de Avião – Jorge M. Homa

Categorias de Incêndio

Os incêndios são classificados em diferentes categorias, cada uma correspondendo a tipos específicos de materiais ou substâncias em combustão:

Classe A: Incêndios que envolvem materiais que deixam resíduos, como brasas ou cinzas. Exemplos incluem madeira, papel e tecidos.

Classe B: Refere-se a incêndios em líquidos inflamáveis, como gasolina, que estão em combustão.

Classe C: Abrange incêndios que ocorrem em materiais elétricos que estão energizados.

Classe D: Envolve metais em combustão, como magnésio.

Agentes Extintores

Os agentes extintores desempenham um papel crucial no combate a incêndios, sendo cada um adequado para tipos específicos de fogo. Os principais agentes extintores utilizados são:

Água: Atua no resfriamento de incêndios da Classe A. É comumente utilizada em extintores portáteis e veículos de combate a incêndio, podendo ser aplicada na forma de jato ou neblina.

Espuma: Eficaz na extinção de incêndios em líquidos inflamáveis (Classe B) por meio de abafamento. Embora seja corrosiva e possa danificar metais, é amplamente utilizada em incidentes aeronáuticos devido à sua alta eficiência em apagar incêndios causados por líquidos combustíveis.

Pó Químico: Utilizado para suprimir incêndios das Classes B e C, age por abafamento.

Pó Seco: Adequado para incêndios da Classe D, também atua por abafamento.

Dióxido de Carbono (CO₂): Preferido em incêndios envolvendo equipamentos elétricos, pois não conduz eletricidade, eliminando o risco de choques. No entanto, ao evaporar, pode causar queimaduras devido ao resfriamento intenso. Além disso, pode provocar asfixia em ambientes fechados, apesar de não ser tóxico.

É utilizado em extintores portáteis e fixos a bordo, mas muitas vezes é substituído pelo agente Halon, que possui características físicas semelhantes, mas oferece maior eficiência.

Procedimentos Contra Incêndio em Voo

Em caso de incêndio durante o voo, é fundamental que o piloto siga rigorosamente os procedimentos recomendados nos manuais da aeronave. Abaixo estão alguns princípios básicos aplicáveis a aviões leves:

a) Incêndio no Motor:

Interrompa imediatamente o fornecimento de combustível ao motor.

Desligue a chave elétrica geral (“Master Switch”).

Inicie os procedimentos para um pouso de emergência sem demora. Uma resposta rápida é essencial para evitar a propagação do fogo, que poderia comprometer a integridade estrutural da aeronave durante o voo.

Caso se confirme que o alarme de incêndio foi falso durante a descida, reverter as ações tomadas será suficiente para retomar o controle normal da aeronave.

b) Incêndio na Cabine:

Se o incêndio for de origem elétrica (por exemplo, se houver odor de fios queimados), desligue a chave elétrica geral (“Master Switch”).

Utilize os extintores de incêndio disponíveis e outros recursos a bordo para conter e extinguir o fogo.

Proceda para um pouso na pista mais próxima, a fim de realizar uma inspeção detalhada e adotar quaisquer medidas adicionais necessárias.

Procedimentos Contra Incêndio no Solo

É essencial que os procedimentos de segurança sejam rigorosamente seguidos em casos de incêndio no solo, tanto para proteger a aeronave quanto para garantir a segurança das pessoas envolvidas. Os principais procedimentos incluem:

a) Incêndio na Partida:

Siga os procedimentos detalhados nos manuais da aeronave.

Durante esses procedimentos, o fogo pode ser naturalmente extinto.

b) Incêndio Durante o Abastecimento:

O piloto ou a pessoa responsável pelo abastecimento deve estar adequadamente treinado para operar o equipamento ou o veículo de abastecimento.

O equipamento de combate a incêndio deve estar pronto para uso imediato.

Em caso de incêndios de grandes proporções, será necessária a intervenção de um veículo de combate a incêndio, operado por uma equipe treinada e equipada com os devidos recursos de proteção, como capacetes, roupas especializadas, botas, respiradores e ferramentas, devido ao elevado risco envolvido.

A compreensão detalhada dos sistemas de proteção contra incêndio em motores, das categorias de incêndio e dos agentes extintores é fundamental para garantir a segurança operacional em situações de emergência.

Os procedimentos descritos são parte integral do treinamento de pilotos e tripulantes, e sua correta aplicação pode significar a diferença entre um incidente controlado e um desastre.

Portanto, é vital que todos os envolvidos na operação de aeronaves estejam familiarizados com esses sistemas e preparados para agir de forma rápida e eficaz em caso de necessidade. A segurança na aviação depende da prevenção e da resposta eficiente a emergências, e o conhecimento técnico é a base para isso.

GLOSSÁRIO – Sistema de Proteção Contra Fogo em Aeronaves

Abafamento Método de extinção que reduz ou elimina o oxigênio disponível para a combustão, sufocando as chamas. É o princípio de ação de agentes como espuma, pó químico e pó seco.

Agente extintor Substância utilizada para combater o incêndio, aplicada conforme o tipo de fogo. Exemplos: água, espuma, dióxido de carbono (CO₂), pó químico, pó seco e halon.

Água (agente extintor) Agente indicado para incêndios de Classe A. Atua principalmente por resfriamento, reduzindo a temperatura do material em combustão.

Alarme sonoro e visual Sinais emitidos na cabine quando o sistema detecta superaquecimento ou fogo. Servem para alertar a tripulação e iniciar os procedimentos de emergência.

Aspersores Bicos ou difusores instalados na linha do sistema de extinção que distribuem o agente extintor na área protegida.

Categoria de incêndio – Classe A Incêndios em materiais sólidos que deixam resíduos, como madeira, papel e tecidos. O combate é preferencialmente com água (resfriamento).

Categoria de incêndio – Classe B Incêndios envolvendo líquidos inflamáveis, como gasolina. São combatidos por abafamento, com destaque para a espuma e o pó químico.

Categoria de incêndio – Classe C Incêndios em equipamentos elétricos energizados. Devem ser combatidos com agentes não condutores, como CO₂ e pó químico.

Categoria de incêndio – Classe D Incêndios em metais pirofóricos, como magnésio. Exigem agentes específicos, como pó seco, que atuam por abafamento.

Chave elétrica geral (Master Switch) Interruptor que comanda a alimentação elétrica principal da aeronave. Em caso de incêndio elétrico, seu desligamento interrompe a energia e reduz o risco de propagação.

CO₂ (Dióxido de carbono) Agente extintor não condutor, apropriado para incêndios elétricos. Age por abafamento e resfriamento, mas pode causar asfixia em ambientes fechados e queimaduras pelo frio intenso ao evaporar.

Detecção de incêndio Função do sistema que identifica a presença de chamas ou temperaturas anormais e aciona os alarmes. Pode ser feita por sensores pontuais ou por sensores contínuos em formato de fio.

Detecção de superaquecimento Monitoramento de temperaturas elevadas que ainda não caracterizam chamas visíveis. Permite ação preventiva antes que o fogo se estabeleça.

Eletricidade energizada Condição na qual circuitos e equipamentos estão alimentados. Em um foco de incêndio elétrico, devem-se usar agentes não condutores e desligar a chave geral.

EPI (Equipamentos de Proteção Individual) Conjunto de itens como capacetes, roupas especiais, botas e respiradores que protegem os profissionais durante o combate a incêndios de maior porte.

Espuma (agente extintor) Indicada principalmente para incêndios de Classe B. Forma uma camada que separa o combustível do oxigênio, extinguindo por abafamento.

Garrafa de agente extintor Recipiente pressurizado onde o agente é armazenado no sistema fixo da aeronave, pronto para descarga quando acionado.

Halon Agente extintor muito eficiente, com propriedades semelhantes ao CO₂ e ampla aplicação histórica na aviação. Em muitos casos substitui o CO₂ graças à sua maior eficácia.

Incêndio durante o abastecimento Situação de risco que exige equipe treinada, equipamentos prontos para uso e procedimentos rigorosos de segurança ao redor da aeronave.

Incêndio na cabine Foco de fogo no interior da aeronave. Se tiver origem elétrica, recomenda-se desligar a chave elétrica geral, usar o extintor adequado e pousar na pista mais próxima.

Incêndio na partida Fogo que pode surgir durante a partida do motor. Devem-se seguir os procedimentos do manual; em alguns casos, o foco se extingue naturalmente com as ações previstas.

Incêndio no motor Foco de fogo na seção do motor. Exige cortar o combustível, considerar desligar a chave elétrica geral, acionar o sistema de extinção e proceder ao pouso de emergência.

Loop contínuo (sensor contínuo) Sensor em formato de fio que percorre a área protegida, detectando superaquecimento ou fogo ao longo de toda a sua extensão, cobrindo zonas amplas.

Pó químico (agente extintor) Agente indicado para incêndios das Classes B e C. Atua por abafamento e não conduz eletricidade.

Pó seco (agente extintor) Agente específico para incêndios em metais (Classe D). Interrompe a reação de combustão por abafamento, sem conduzir eletricidade.

Pouso de emergência Aterrissagem realizada com prioridade e rapidez devido a uma situação crítica, como incêndio. Tem como objetivo preservar a integridade da aeronave e a segurança dos ocupantes.

Resfriamento Método de extinção que reduz a temperatura do material em combustão, impedindo a continuidade do fogo. A água é o principal agente de resfriamento.

Sensor local (sensor pontual) Dispositivo instalado em pontos específicos de maior risco, destinado a detectar calor anormal em locais críticos.

Sensores térmicos Conjunto de dispositivos que reagem a variações de temperatura, permitindo detectar superaquecimento e fogo.

Sistema de detecção de fogo Subconjunto do sistema de proteção que monitora temperaturas e a presença de chamas, gerando alerta imediato à tripulação.

Sistema de extinção de incêndio Conjunto de garrafas de agente, tubulações, válvulas e aspersores que, quando acionados, liberam o agente extintor na área afetada.

Sistema de proteção contra fogo Sistema integrado de detecção e extinção projetado para identificar rapidamente um foco de incêndio e combatê-lo de forma eficiente.

Superaquecimento Estado em que a temperatura excede o normal de operação, aumentando o risco de incêndio. É monitorado pelo sistema para ação rápida.

Tubulação (do sistema de extinção) Rede de conduítes por onde o agente extintor é transportado das garrafas até os aspersores na área protegida.

Válvulas de controle Componentes que regulam o fluxo do agente extintor dentro do sistema, permitindo direcionar e controlar a descarga.

Veículo de combate a incêndio Equipamento terrestre especializado utilizado por equipes treinadas para combater incêndios de grande porte em aeroportos.

FAQ

P: Qual a diferença entre detecção de incêndio e detecção de superaquecimento? R: A detecção de superaquecimento identifica temperaturas anormais antes da chama visível, permitindo ação preventiva. Já a detecção de incêndio confirma a presença de fogo e aciona alarmes imediatos.

P: Como funciona um sensor em loop contínuo? R: É um fio sensível ao calor que percorre a área protegida. Quando detecta temperatura acima do limite, altera suas características elétricas e aciona o alerta na cabine.

P: Por que não se deve usar água em incêndios elétricos? R: Porque a água pode conduzir eletricidade e aumentar o risco de choque e propagação do curto. Nesses casos, use CO₂ ou pó químico.

P: Em que situações o CO₂ é preferível ao halon e vice-versa? R: Ambos não conduzem eletricidade e agem por abafamento. O halon tem alta eficácia e ampla aplicação histórica; o CO₂ é comum e acessível, mas requer cautela em locais confinados devido ao risco de asfixia.

P: O que acontece ao desligar a chave elétrica geral durante um incêndio elétrico? R: A alimentação dos circuitos é interrompida, reduzindo o risco de novos arcos e de propagação do fogo. Depois, aplica-se o agente extintor adequado.

P: Por que é recomendado pouso de emergência em caso de incêndio no motor? R: Porque o fogo pode comprometer rapidamente a estrutura e os sistemas vitais da aeronave. Pousar cedo maximiza a segurança e o controle da situação.

P: O que significa “abafamento” na extinção do fogo? R: É o método de suprimir o fogo ao isolar o combustível do oxigênio, formando uma barreira física com espuma, pó químico ou pó seco.

P: Quais cuidados são essenciais durante o abastecimento para prevenir incêndios? R: Ter pessoal treinado, equipamentos de combate prontos, aterramento adequado, controle de fontes de ignição e cumprimento rigoroso dos procedimentos do fabricante e do aeródromo.

P: O que fazer diante de um possível alarme falso de incêndio em voo? R: Execute os procedimentos de emergência. Se confirmado que foi alarme falso durante a descida, as ações podem ser revertidas conforme o manual e a condição da aeronave.

P: Como os aspersores ajudam na eficácia do sistema de extinção? R: Eles distribuem o agente extintor de forma direcionada e ampla na área protegida, aumentando a cobertura e a rapidez do combate ao fogo.

P: Por que a espuma é tão usada em incêndios de líquidos inflamáveis? R: Porque ela forma uma película que isola o combustível do oxigênio e reduz a liberação de vapores inflamáveis, extinguindo o fogo com rapidez.