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A aviação é uma área que exige um conhecimento detalhado e preciso sobre diversos aspectos técnicos, sendo a escolha e uso de combustíveis um dos mais críticos. O combustível usado em aviões não é apenas um líquido inflamável, mas um componente vital que precisa atender a rigorosos padrões de desempenho e segurança.

Este post aborda os processos de obtenção, as propriedades e as particularidades dos combustíveis utilizados na aviação, especialmente a gasolina de aviação, destacando sua importância para o funcionamento eficiente e seguro das aeronaves.

1. OBTENÇÃO DO COMBUSTÍVEL

A obtenção dos combustíveis usados na aviação é realizada através da destilação fracionada do petróleo. Esse processo consiste em aquecer o petróleo para evaporar as frações voláteis e recolhê-las separadamente através do resfriamento. Dessa forma, são obtidos diversos produtos, como éter, gasolina, querosene, óleo diesel e óleos lubrificantes.

Os combustíveis obtidos do petróleo são conhecidos como combustíveis minerais, em contraste com o álcool, que é um combustível de origem vegetal.

Na aviação, como regra geral, a gasolina de aviação é utilizada nos motores a pistão, enquanto o querosene é empregado nos motores a reação, também conhecidos como motores a turbina. A gasolina de aviação é composta principalmente por hidrocarbonetos e é utilizada em motores de aeronaves de pequeno porte, como os de pistão.

Já o querosene, que também é composto por hidrocarbonetos, é utilizado em motores de aeronaves maiores, como os de turbina, devido às suas propriedades específicas que o tornam mais adequado para esse tipo de motor.

Fonte: Livro Aeronaves e Motores – Conhecimentos Técnicos de Avião – Jorge M. Homa

2. PROPRIEDADES DA GASOLINA

As propriedades da gasolina são de extrema importância para o seu desempenho e utilização como combustível na aviação. As propriedades mais relevantes da gasolina incluem o poder calorífico, a volatilidade e o poder antidetonante.

a) Poder Calorífico: O poder calorífico da gasolina é a quantidade de calor liberada pela combustão de uma determinada quantidade desse combustível. A gasolina é conhecida por ter um dos mais altos poderes caloríficos entre os combustíveis, o que a torna uma escolha eficiente para a geração de energia térmica durante a combustão.

b) Volatilidade: A gasolina é uma mistura de vários líquidos combustíveis chamados hidrocarbonetos. Alguns desses componentes possuem alta volatilidade, o que significa que eles têm a capacidade de vaporizar rapidamente em baixas temperaturas. Essa característica de alta volatilidade da gasolina é fundamental para permitir a partida fácil do motor, especialmente em condições de baixa temperatura.

c) Poder Antidetonante: O poder antidetonante da gasolina é a sua capacidade de resistir à detonação, também conhecida como batida de pinos. A detonação ocorre quando a mistura ar/combustível no cilindro do motor entra em combustão de forma não controlada, o que pode levar à perda de potência e danos ao motor. Portanto, o poder antidetonante da gasolina é crucial para garantir o bom funcionamento do motor, evitando a detonação e mantendo a eficiência da combustão.

Essas propriedades da gasolina são essenciais para garantir o desempenho adequado dos motores de aeronaves, especialmente em termos de eficiência energética, facilidade de partida e segurança operacional.

3. A COMBUSTÃO DA GASOLINA

A combustão pode ocorrer de três diferentes maneiras no motor: por combustão normal, pré-ignição e detonação.

a) Combustão Normal – Durante a combustão normal da gasolina em um motor, o processo de ignição ocorre na vela de ignição, onde uma centelha é gerada para inflamar a mistura de ar e combustível. Essa chama resultante se propaga de forma progressiva e controlada ao redor da câmara de combustão, queimando a mistura de forma uniforme e precisa. A pressão e a temperatura aumentam conforme a queima avança, gerando a energia necessária para impulsionar o pistão para baixo e converter a energia calorífica em energia mecânica.

Durante esse processo, a chama fronteira avança do ponto de ignição para ao redor do cilindro, comprimindo os gases à frente dela. A velocidade do percurso da chama é influenciada por diversos fatores, como o tipo de combustível, a razão da mistura combustível/ar, a pressão e a temperatura da mistura. Em condições ideais, a combustão normal ocorre de forma suave e eficiente, proporcionando a potência necessária para o funcionamento do motor.

Fonte: Livro Aeronaves e Motores – Conhecimentos Técnicos de Avião – Jorge M. Homa

b) Pré-Ignição – A pré-ignição é um fenômeno no qual a combustão da mistura ar/combustível ocorre de forma prematura, antes da centelha ser gerada pela vela de ignição. Essa ignição antecipada é desencadeada por um ponto quente na câmara de combustão, que pode ser causado por diversos fatores, como a vela superaquecida, depósitos de carbono incandescentes no pistão ou na câmara, entre outros.

Quando a pré-ignição ocorre, a chama se propaga de maneira progressiva, similar à combustão normal, porém de forma prematura. Isso resulta em um aumento rápido e descontrolado da pressão dos gases enquanto o pistão ainda está em seu movimento de compressão, o que pode levar à perda de potência do motor e ao superaquecimento do mesmo. A pressão excessiva gerada pela combustão prematura pode causar danos estruturais no motor, além de afetar negativamente seu desempenho.

É importante ressaltar que a pré-ignição é um problema sério que deve ser evitado, pois pode resultar em danos significativos ao motor e comprometer sua operação adequada. Por isso, é fundamental seguir as recomendações do fabricante em relação à qualidade do combustível, manutenção preventiva e ajustes adequados para garantir o correto funcionamento do sistema de ignição e prevenir a ocorrência desse fenômeno prejudicial.

Fonte: Livro Aeronaves e Motores – Conhecimentos Técnicos de Avião – Jorge M. Homa

c) Detonação ou “Batida de Pinos” – A detonação, também conhecida como “batida de pinos”, é um fenômeno de combustão praticamente instantânea ou explosiva que ocorre de forma descontrolada, sem o avanço progressivo da chama, resultando em um pico repentino de pressão sobre a cabeça do pistão. Esse aumento súbito na pressão gera um ruído característico, assemelhando-se a batidas de martelo, daí o nome popular “batida de pinos”.

As principais causas da detonação incluem a utilização de combustível com baixo poder antidetonante, operação do motor com mistura muito pobre, superaquecimento do cilindro e compressão excessivamente alta. Quando a detonação ocorre, pode ser antes ou depois da faísca na vela de ignição, e também pode estar associada ou não à pré-ignição.

As consequências da detonação são severas e podem incluir a perda de potência do motor, superaquecimento do sistema, fraturas e danos nos anéis de segmento, pistões e válvulas, queima do óleo lubrificante e até mesmo a parada do motor. Esses danos estruturais e operacionais podem comprometer seriamente o funcionamento do motor, levando a custosas reparos e até mesmo à necessidade de substituição de componentes danificados.

Portanto, é fundamental evitar a detonação por meio da utilização de combustível adequado, manutenção preventiva do sistema de combustão, controle da temperatura do motor e ajustes corretos de compressão. A detonação é um problema sério que, se não for tratado adequadamente, pode resultar em danos significativos ao motor e comprometer sua eficiência e durabilidade.

Fonte: Livro Aeronaves e Motores – Conhecimentos Técnicos de Avião – Jorge M. Homa

4. ÍNDICE DE OCTANO (IO)

O índice de octano, também conhecido como IO, é um valor numérico atribuído à gasolina para indicar sua capacidade de resistir à detonação, ou seja, seu poder antidetonante. Esse índice é determinado por meio de testes realizados em um motor CFR (Cooperative Fuel Research), que é um motor de laboratório com compressão variável.

O método de determinação do índice de octano consiste em realizar testes comparativos entre a gasolina a ser avaliada e diversas misturas padrão de isooctano e heptano. O isooctano puro, que possui a máxima resistência à detonação, é atribuído com um índice de octano de 100, enquanto o heptano puro, que é mais propenso à detonação, tem um índice de octano de zero.

Ao realizar os testes no motor CFR, uma mistura padrão específica, por exemplo, contendo 87% de isooctano e 13% de heptano, recebe o índice octânico de 87. Se a gasolina desconhecida se comportar de forma semelhante a essa mistura padrão no motor CFR, sua octanagem será designada também como 87. Isso significa que a gasolina em questão possui a mesma resistência à detonação que a mistura padrão de 87% de isooctano e 13% de heptano.

Portanto, o índice de octano é uma medida importante para classificar a qualidade do combustível e sua capacidade de resistir à detonação em motores de combustão interna, auxiliando na escolha do combustível mais adequado para garantir o bom funcionamento do motor e prevenir danos causados pela detonação.

5. ÍNDICE DE DESEMPENHO (ID)

O índice de desempenho é usado quando a gasolina possui octanagem maior que 100. É calculado através de uma fórmula convencional arbitrária.

6. GASOLINA DE AVIAÇÃO E SEUS ADITIVOS

A gasolina de aviação no Brasil, denominada AVGAS-100LL (Aviation Gasoline 100 Octane Low Lead), possui uma octanagem de 100 para mistura pobre e 130 para mistura rica, sendo mais detonante quando a mistura é pobre. Os principais aditivos incorporados a essa gasolina são:

a) Chumbo Tetraetila: É um aditivo necessário para atingir a octanagem especificada. No entanto, é um produto muito venenoso e de uso legal apenas na aviação. Sua quantidade é reduzida ao mínimo possível, indicado pelo termo “LL” (Low Lead), visando minimizar os impactos ambientais e à saúde.

b) Corante Azul: Este aditivo é exigido pela legislação e serve para identificar visualmente o tipo de gasolina de aviação, facilitando o seu reconhecimento e manuseio adequado.

c) Outros Aditivos: Além do chumbo tetraetila e do corante azul, a gasolina de aviação pode conter outros aditivos. Estes incluem aditivos para reduzir o acúmulo de chumbo e seus compostos nas velas e válvulas do motor, aditivos para evitar a oxidação da gasolina pela reação com o oxigênio do ar, e aditivos antiestáticos para reduzir o acúmulo de eletricidade estática e o consequente risco de incêndio durante o abastecimento e operação da aeronave.

Esses aditivos são essenciais para garantir o bom desempenho e a segurança no uso da gasolina de aviação, atendendo às especificações técnicas e regulamentações vigentes na aviação.

7. DETERIORAÇÃO DA GASOLINA

A deterioração da gasolina pode ser causada por diversos fatores, como a exposição ao ar, água, luz, calor, evaporação parcial e estocagem prolongada nos tanques da aeronave. Quando a gasolina se deteriora, isso pode resultar em diversos problemas, tais como:

a) Entupimento de Filtros: A deterioração da gasolina pode levar à formação de gomas e depósitos sólidos diversos, que podem obstruir os filtros do sistema de combustível da aeronave. Isso pode prejudicar o fluxo de combustível e comprometer o desempenho do motor.

b) Dificuldade de Partida: A perda dos componentes mais voláteis da gasolina devido à evaporação pode causar dificuldades na partida do motor. A gasolina deteriorada pode não vaporizar corretamente, afetando a formação da mistura ar/combustível necessária para a combustão.

c) Funcionamento Irregular do Motor: A alteração da composição química da gasolina e a contaminação por água, que podem ocorrer devido à deterioração, podem resultar em um funcionamento irregular do motor. Isso pode se manifestar em falhas de ignição, perda de potência e outros problemas de desempenho.

d) Corrosão no Sistema de Combustível: A deterioração da gasolina pode aumentar a acidez do combustível, o que pode levar à corrosão de componentes do sistema de combustível da aeronave. A corrosão pode danificar tanques, tubulações e outras partes do sistema, comprometendo a segurança e a operacionalidade da aeronave.

Portanto, é fundamental manter a qualidade e a integridade da gasolina de aviação, evitando sua deterioração por meio de práticas adequadas de armazenamento, manuseio e manutenção dos sistemas de combustível da aeronave.

A compreensão detalhada sobre a obtenção, propriedades e efeitos dos combustíveis de aviação é essencial para garantir a segurança e a eficiência operacional das aeronaves. Desde a destilação fracionada do petróleo até os cuidados necessários para evitar a deterioração do combustível, cada aspecto desempenha um papel crucial no desempenho dos motores.

A gasolina de aviação, com suas especificidades e aditivos, demonstra a complexidade envolvida na escolha e no uso adequado dos combustíveis. Portanto, é fundamental continuar estudando e aprimorando nossos conhecimentos nessa área para manter os padrões elevados de segurança e desempenho na aviação.