Como é a inspeção em cabos de comando?
A manutenção adequada dos cabos é um aspecto crítico da segurança aeronáutica. Neste artigo, vamos explorar os diferentes tipos de cabos utilizados em aeronaves, suas características e os procedimentos essenciais de manutenção e inspeção.
Entendendo os Cabos Convencionais
Os cabos convencionais são componentes fundamentais no sistema de controle das aeronaves. Sua estrutura básica consiste em três elementos principais:
- Cabo flexível de aço
- Terminais prensados nas extremidades
- Esticadores para ajuste da tensão
Procedimentos de Inspeção
A inspeção regular dos cabos é vital para garantir a segurança das operações. Durante as inspeções periódicas, os técnicos devem seguir um protocolo específico:
Método do Pano
Uma técnica eficaz de inspeção consiste em passar um pano ao longo do comprimento do cabo. Esta simples ação permite identificar quebras nos fios, pois o tecido ficará preso nos pontos danificados.
Inspeção Detalhada
Para uma verificação mais minuciosa, é necessário:
- Mover as superfícies de controle até seu limite máximo
- Examinar cuidadosamente as áreas do cabo que passam por polias
- Verificar os guias do cabo e tambores
Tratamento da Corrosão
A corrosão é um problema sério que requer atenção especial. Quando identificada, o procedimento correto inclui:
Inspeção Interna
- Aliviar a tensão do cabo
- Abrir cuidadosamente os fios para examinar o interior
- Substituir imediatamente o cabo se houver corrosão interna
Limpeza e Manutenção
É importante observar algumas restrições durante a limpeza:
- Usar apenas pano grosso ou escova de fibra
- Evitar escovas metálicas que podem causar corrosão futura
- Não utilizar solventes que removem a lubrificação interna
Cabos Revestidos
As grandes aeronaves frequentemente utilizam cabos revestidos, que apresentam características especiais:
Vantagens
- Menor variação de tensão devido a mudanças de temperatura
- Redução no estiramento sob carga
- Maior proteção contra desgaste
Critérios de Substituição
Os cabos revestidos devem ser trocados quando apresentarem:
- Cobertura desgastada
- Fios expostos
- Quebras na estrutura
- Pontos de desgaste causados pelo atrito
Ajuste dos cabos de comando
A ajustagem precisa dos sistemas de controle de voo é fundamental para garantir a operação segura de uma aeronave. Este processo exige atenção meticulosa aos detalhes e o uso de equipamentos específicos.
Objetivos da Ajustagem
O principal objetivo é garantir que:
- As superfícies de controle se movam adequadamente a partir da posição neutra
- Os movimentos estejam perfeitamente sincronizados com os controles da cabine
- Todo o sistema opere dentro das especificações do fabricante
Procedimento de Ajustagem
Etapa 1: Posicionamento Inicial
- O sistema de controles de voo deve ser colocado em posição neutra
- Utilização de pinos de trava ou blocos para fixação temporária
- Garantia do alinhamento correto antes dos ajustes
Etapa 2: Ajustes Específicos
O processo inclui o ajuste de:
- Curso das superfícies de controle
- Tensão dos cabos de comando
- Hastes de ligação
- Batentes conforme especificações do fabricante
Equipamentos Necessários
Para realizar uma ajustagem precisa, são necessários diversos equipamentos especializados:
- Tensiômetros
- Cartas de regulagem de tensão de cabos
- Transferidores
- Acessórios de regulagem
- Gabaritos de contorno
- Réguas de precisão
Considerações Importantes
- Cada aeronave possui especificações próprias que devem ser rigorosamente seguidas
- A calibração dos equipamentos de medição é essencial
- Documentação adequada de todos os ajustes realizados
- Verificação dupla de todas as medições e ajustes
Medição de Tensão em Cabos de Aeronaves com Tensiômetro
A medição precisa da tensão dos cabos de controle é fundamental na manutenção de aeronaves. O tensiômetro é o instrumento essencial para esta tarefa, oferecendo uma precisão notável de 98% quando adequadamente mantido.
O Tensiômetro: Funcionamento e Componentes
Componentes Principais
- Bigornas: blocos de aço endurecido que suportam o cabo
- Levantador (calço): pressiona o cabo entre as bigornas
- Mostrador com ponteiro: indica a força aplicada
- Trava do ponteiro: mantém a última leitura
Como Funciona
- O cabo é posicionado sob as duas bigornas
- A alavanca é movida para cima
- O levantador pressiona o cabo contra as bigornas
- O ponteiro indica a força necessária no mostrador
Procedimento de Medição
Preparação
- Selecionar o levantador adequado para o diâmetro do cabo
- Verificar a tabela de calibração correspondente
- Assegurar que o ponteiro está em zero
Execução da Medição
- Posicionar o cabo sob as bigornas
- Acionar a alavanca de comando
- Observar a leitura no mostrador
- Usar a trava do ponteiro se necessário
- Converter a leitura usando a tabela de calibração
Uso das Cartas de Regulagem
Considerações de Temperatura
- As cartas compensam variações de temperatura
- São essenciais para ajustes precisos
Exemplo Prático
Para um cabo de 1/8 polegada (7×19) a 25°C (85°F):
- Localizar a linha de temperatura (85°F)
- Encontrar a interseção com a curva do cabo
- Traçar uma linha horizontal até a escala
- Leitura final: 70 libras de tensão
Dicas Importantes
- Sistema de Levantadores
- Levantador nº 1: cabos de 1/16, 3/32 e 1/8 polegada
- Levantador nº 2: cabos de 5/32 polegada
- Verificar sempre a compatibilidade do levantador
- Uso da Trava do Ponteiro
- Útil quando o mostrador está em posição difícil
- Permite remover o instrumento para leitura
- Lembrar de destravar após a leitura
A Importância da Manutenção de Cabos em Aeronaves
A manutenção e inspeção adequada dos cabos de controle em aeronaves é um elemento crítico para a segurança da aviação. Ao longo deste artigo, exploramos diversos aspectos essenciais, desde os tipos de cabos até os procedimentos detalhados de inspeção e ajuste.
Destacamos a importância de:
- Inspeções regulares e meticulosas dos cabos
- Uso correto de equipamentos especializados como o tensiômetro
- Procedimentos específicos para tratamento de corrosão
- Ajustes precisos seguindo as especificações do fabricante
A combinação de conhecimento técnico, ferramentas adequadas e procedimentos padronizados garante a integridade dos sistemas de controle da aeronave. É fundamental que os técnicos de manutenção aeronáutica mantenham-se atualizados sobre estas práticas e sigam rigorosamente os procedimentos estabelecidos.
Vale ressaltar que cada componente, por menor que pareça, tem um papel crucial na segurança do voo. A manutenção preventiva e a atenção aos detalhes são as melhores formas de prevenir falhas e garantir a operação segura das aeronaves.
Nota: Este guia serve como referência geral para manutenção de cabos em aeronaves. Sempre consulte os manuais específicos da aeronave e siga as diretrizes do fabricante para procedimentos detalhados.
GLOSSÁRIO
Abrasão Desgaste superficial do cabo causado pelo atrito com polias, fairleads ou estruturas. Aparece como áreas polidas, achatadas ou com rebarbas.
Afinamento do cabo Redução perceptível do diâmetro do cabo ao longo de um trecho, indicando desgaste interno, corrosão ou estiramento excessivo.
Afrouxamento (cabo frouxo) Condição em que a tensão está abaixo do recomendado. Gera atraso na resposta dos comandos e possibilidade de o cabo sair da canaleta da polia.
Alinhamento Posicionamento correto do cabo na linha de centro das polias e fairleads. Desalinhamento provoca desgaste assimétrico e aumento de atrito.
Arame (fio) partido Quebra de um ou mais fios individuais do cabo. Sinal clássico de fadiga, abrasão ou corrosão e critério de substituição conforme o manual.
Backlash (folga operacional) Folga percebida no sistema de comando antes de o órgão aerodinâmico começar a se mover. Pode ser causado por tensão inadequada ou desgaste de componentes.
Birdcaging (efeito “cesta de passarinho”) Abertura dos cordões do cabo formando uma “gaiola” após torção ou choque. Indica condenação imediata do cabo.
Bucha de polia Elemento entre o eixo e a polia que reduz atrito. Desgaste ou travamento da bucha causa cortes no cabo e aumento de esforço no comando.
Cabo 7×7 Construção com 7 cordões de 7 fios. Mais rígido, bom para trechos retos e onde há menor flexão repetitiva.
Cabo 7×19 Construção com 7 cordões de 19 fios. Mais flexível, adequado a trajetos com curvas e polias menores.
Corrosão Degradação química/eletrólitica do metal. Pode ser uniforme (opaca), por pites (pontos) ou sob produtos de proteção. Sempre investigar sob poeira e resíduos.
Crimpagem (prensagem) Fixação de um terminal ao cabo por compressão controlada (swage). Requer matriz correta e inspeção dimensional.
Curvatura mínima (raio mínimo) Raio mínimo de polias e guias para evitar dano por flexão. Polias pequenas demais aceleram a fadiga dos fios.
Desalinhamento Quando o cabo não segue a linha de centro das polias/fairleads. Causa desgaste lateral na canaleta e fios partidos na borda do cabo.
Desfiamento (separação de fios) Abertura irregular dos fios do cabo, geralmente por torção indevida, choque ou instalação incorreta de terminais.
Desgaste (polimento/brilho) Superfície brilhante e lisa nos fios externos, típica de atrito contínuo. Deve-se identificar a causa (polia, fairlead, estrutura).
Dobras / Kinks (vinco) Dobras permanentes no cabo por manuseio inadequado. Reduzem drasticamente a resistência e exigem substituição do trecho afetado.
Esticador (turnbuckle) Dispositivo roscado usado para ajustar a tensão do cabo. Deve ter travamento de segurança (fio, clip ou mangueira adequada) após o ajuste.
Fairlead (guia de cabo) Anel/guia que mantém o cabo na rota correta. Desgaste do fairlead gera rebarbas e cortes no cabo; substitua se houver fendas ou ovalização.
Forquilha (terminal forquilha/olhal) Tipo de terminal mecânico para ligação do cabo a alavancas ou bellcranks. Exige inspeção de folgas, pinos e travas.
Inspeção tátil com pano Técnica de passar um pano claro ao longo do cabo para “sentir” rebarbas e destacar arames partidos que prendem as fibras do pano.
Inspeção visual Observação detalhada de todo o percurso do cabo, focando zonas de polias, fairleads, partes ocultas, curvas e áreas sujeitas à umidade.
Intervalo de inspeção Periodicidade definida pelos manuais de manutenção. Pode aumentar em ambientes corrosivos, operações costeiras ou aeronaves pouco utilizadas.
Lay (passo do encordoamento) Comprimento de uma volta completa dos cordões ao redor do cabo. Alterações no lay indicam torção, estiramento ou birdcaging.
Lubrificação (proteção) Aplicação de produto adequado para reduzir atrito e proteger contra corrosão. Evitar excesso que atraia sujeira; seguir o manual da aeronave.
Manguito (sleeve/Nicopress) Bucha metálica prensada para formar laços/olhais. Exige sequência e pressão de prensagem específicas, mais inspeção por medida e marcas.
Marcas de desgaste Sinais visuais como sulcos, rebarbas ou brilho localizado em pontos de contato. Ajudam a localizar polias travadas ou fairleads danificados.
Polia Roldana com canaleta onde o cabo corre. Deve girar livre, sem “ovalização” da canaleta e sem bordas cortantes.
Pré-tensionamento Ajuste inicial da tensão considerando variações de temperatura e acomodação do cabo após a instalação.
Raio de curvatura Medida da curva percorrida pelo cabo. Raios pequenos elevam a fadiga; respeitar valores mínimos estabelecidos.
Rigging (regulagem) Ajuste geométrico e de tensões do sistema de comandos para obter curso, centragem e neutralidade corretos.
Rosca do esticador Partes interna/externa do turnbuckle. Devem ter engajamento mínimo e estar limpas, lubrificadas e protegidas contra soltura.
Ruído / Chiado do cabo Som anormal durante movimentação dos comandos. Indica atrito, polia travada ou tensão inadequada.
Tensão do cabo Força longitudinal aplicada ao cabo. Deve ficar dentro da faixa especificada, ajustada para a temperatura ambiente.
Tensiômetro Instrumento para medir a tensão do cabo de forma não destrutiva, apoiando em três pontos do cabo.
Terminal (olhal/forquilha/rolete) Peças finais que conectam o cabo ao mecanismo. Inspecionar por trincas, folgas, corrosão e correta crimpagem/prensagem.
Torção do cabo Giro indevido do cabo sobre seu eixo, alterando o lay. Provoca desfiamento e birdcaging.
Trava do esticador (safety) Método de impedir o afrouxamento do turnbuckle após o ajuste (fio de segurança, clip ou “safety sleeve”).
Vibração Oscilações que aceleram a fadiga. Normalmente aumentam com tensão incorreta, polias gastas ou desalinhamento.
FAQ — PERGUNTAS FREQUENTES
P: Como identificar quando um cabo deve ser substituído? R: Procure por arames partidos, dobras/kinks, birdcaging, afinamento do diâmetro, corrosão visível e desgaste acentuado junto a polias e fairleads. A decisão final segue os critérios do manual da aeronave e do fabricante do cabo/terminal.
P: Qual a diferença prática entre cabos 7×7 e 7×19? R: O 7×7 é mais rígido e indicado para trechos mais retos; o 7×19 é mais flexível e se adapta melhor a trajetos com curvas e polias menores. A seleção depende do projeto e das recomendações do manual.
P: Como medir corretamente a tensão do cabo? R: Use um tensiômetro apropriado ao diâmetro do cabo. Compense a leitura pela temperatura ambiente conforme tabela do manual e ajuste o esticador até a faixa especificada.
P: Por que a temperatura influencia a tensão do cabo? R: O metal dilata e contrai com a temperatura. Em dias frios, a tensão tende a aumentar; em dias quentes, diminuir. Por isso a leitura deve ser compensada e o ajuste feito na faixa certa.
P: O que é o teste com pano na inspeção? R: É a inspeção tátil: passa-se um pano claro ao longo do cabo para sentir rebarbas e puxões. Se o pano “enganchar”, investigue a presença de arames partidos ou rebarbas na rota.
P: Como travar o esticador após o ajuste? R: Utilize o método especificado (fio de segurança, clip ou sleeve) garantindo engajamento mínimo das roscas. A trava deve impedir qualquer rotação do corpo do esticador.
P: Quando devo lubrificar os cabos? R: Siga a periodicidade do manual e as condições de operação. Áreas costeiras e ambientes úmidos exigem atenção maior. Evite excesso, pois atrai sujeira e mascara defeitos.
P: Quais são os pontos mais críticos de inspeção no trajeto do cabo? R: Regiões de polias e fairleads, curvas acentuadas, áreas ocultas por painéis, proximidade de locais úmidos/contaminantes e pontos com marcas de contato.
P: Como diferenciar desgaste por abrasão de corrosão? R: Abrasão deixa a superfície lisa e brilhante ou com sulcos; corrosão apresenta manchas opacas, pontos/pites e material esfarelando. Em dúvida, limpe a área e reavalie.
P: Dobrei o cabo sem querer durante a manutenção. Posso “desamassar” e continuar usando? R: Não. Dobra (kink) cria dano permanente e reduz muito a resistência. O trecho afetado deve ser substituído.
P: O que fazer se a polia estiver travando ou com borda viva? R: Substituir a polia ou reparar conforme o manual. Polia travada corta o cabo, aumenta a carga nos comandos e acelera a fadiga.
P: Quais sinais indicam desalinhamento na rota? R: Desgaste lateral na canaleta da polia, brilho localizado no flanco do cabo, ruídos/chiados ao acionar e tendência do cabo “subir” a borda da polia.
P: Como registrar a inspeção realizada? R: Documente no livro de manutenção/ordem de serviço: pontos inspecionados, medições de tensão (com temperatura), ajustes efetuados, peças substituídas e assinatura/responsável.
P: Hastes (push-pull rods) substituem cabos? R: São soluções diferentes. Hastes têm rigidez superior e não exigem tensão, mas cabos são mais leves e contornam trajetos complexos com polias. Cada aeronave usa o que foi projetado.