Como ocorre a Corrosão Microbiológica em aeronaves?

Presença de água nos combustíveis aeronáuticos

Todos os combustíveis à base de hidrocarbonetos contêm alguma quantidade de água suspensa e dissolvida.

A quantidade de água contida no combustível depende da temperatura e do tipo de combustível.

O combustível Jet possui, com seu maior conteúdo aromático, tendência a absorver mais água que a gasolina de aviação, favorecendo a corrosão Microbiológica em aeronaves.

Água em uma amostra de combustível

A água dissolvida é considerada o maior problema de contaminação do combustível.

Seus efeitos são maiores em aeronaves operadas em regiões úmidas e de clima quente.

Por um lado, a presença de água pode, dependendo da quantidade e das condições, ocasionar o congelamento do filtro.

Por outro lado, a água no combustível pode criar um ambiente favorável ao crescimento de uma “lama” microbiológica nas células de combustível.

Corrosão Microbiológica

É a corrosão causada pela atividade metabólica de vários microorganismos.

Há vários anos, a corrosão microbiológica no interior de tanques integrais de combustível vem sendo um problema constante para todos os operadores de aeronaves equipadas com motores a reação (a jato) ou turbo-hélice.

Tais microorganismos podem causar falha dos motores, devido ao entupimento dos filtros e panes nas bombas de combustível ou falhas estruturais, como consequência direta dessa corrosão.


Bactéria e Microrganismos

Os microrganismos vivem, em sua maioria, na interface do combustível e da água, encontrando ali um ambiente propício para o seu desenvolvimento.

Desenvolvimento de fungos no combustível

Os microrganismos podem se desenvolver na presença de oxigênio (aeróbios) ou na sua ausência (anaeróbios), alimentando-se basicamente de hidrocarbonetos do combustível, sais minerais, outras impurezas contidas na água e selantes dos tanques.

Mecanismos do ataque corrosivo

Numa síntese simplista, pode-se dizer que o metabolismo desses microorganismos, vivendo ou não na interface do combustível e água, elimina substâncias que formam uma camada lodosa, no fundo do tanque, provocando a sua corrosão.

Meios de contaminação dos tanques

Existe uma relação íntima entre presença de água no combustível e condições favoráveis para o desenvolvimento de colônias de microrganismos.

A água pode ser introduzida nos tanques por um dos seguintes meios:

  • Condensação da umidade do ar contido no interior dos tanques;
  • Decantação da água dissolvida no combustível;
  • Introdução direta de água pelo equipamento abastecedor, caso esse não seja adequadamente mantido e controlado;
  • Penetração de água de chuva pelo local de abastecimento, em caso de deterioração da vedação e, eventualmente, maus tratos à tampa, ou mesmo em abastecimentos efetuados em dias chuvosos.

PREVENÇÃO E CONTROLE DA CORROSÃO MICROBIOLÓGICA

Programa de controle e combate

A seguir, estão relacionados os modos de combate ou de minimização dos efeitos do crescimento de colônias de microrganismos no interior dos tanques.

Aplicação de biocida.

Drenagens

A eliminação de água no interior dos tanques é um dos pontos mais importantes do programa. O seguinte procedimento deve ser seguido:

  1. Drenar os tanques, pelo menos uma vez por dia;
  2. Observar as amostras colhidas e verificar a presença de água no fundo do recipiente;
  3. Verificar a presença de sujeira, sedimentos ou limo, principalmente na interface água-combustível;
  4. Se em qualquer das drenagens for notada a presença de sedimentos ou limo, submeter a amostra a uma análise da presença de microrganismos.
Dranando acumulo de água

Verificação da concentração de água

Estudos efetuados revelam que, em concentrações de água no combustível inferiores a 30 PPM, as possibilidades de proliferação de microrganismos são extremamente remotas.

Dessa forma, deve-se exigir das companhias abastecedoras que em todos os abastecimentos seja efetuado o teste de água do combustível.

Caso seja detectada a presença de água durante esse teste, recuse o combustível e solicite o abastecimento de outro caminhão ou de outra companhia.

Caso esse procedimento não seja possível, drenar os tanques após o abastecimento e comunicar à manutenção o fato.

Aplicação preventiva e sistemática de produtos biostáticos

Um produto biostático é o que inibe o desenvolvimento de colônias, ou seja, cria um ambiente desfavorável para o seu crescimento.

Na fase preventiva, recomenda-se o uso de produtos biostáticos (Prist, por exemplo) em vez dos biocidas (os quais têm finalidade específica de matar os microrganismos, atacando as colônias e tornando o tanque estéril).

Esses produtos são, em geral, anti congelantes; mas, nas proporções utilizadas, apresentam propriedades de evitar ou impedir o desenvolvimento de colônias de microrganismos.

Caso venha a ser detectada a presença de microrganismos, há necessidade da aplicação suplementar dos produtos biostáticos ou de produtos especificamente biocidas.

Análise periódica da presença de microrganismos

Verificação do combustível

As amostras devem ser imediatamente submetidas a uma cultura de microrganismos quando:

  • Durante a fase de drenagem, for notada a presença de sedimentos ou limo;
  • Durante a fase de verificação da concentração de água no combustível, forem notadas concentrações superiores a 30 ppm;
  • Independente das situações acima, a cada 150 horas ou 3 meses.

Aplicação corretiva de biocidas

Esta etapa do programa prevê a aplicação de aditivos capazes de deter o crescimento das colônias e também fazê-las regredir, matando os microrganismos e tornando o tanque novamente estéril.

Biocida Kathon FP1.5

Alguns cuidados se fazem necessários, durante o tratamento com esse produto, sendo o principal a inspeção dos filtros.

Os microrganismos, suas secreções e limo serão decantados e sedimentados com o tratamento, podendo obstruir os filtros de combustível.

Produtos recomendados

  • ANTI CONGELANTE: MIL-I-85470 (HI-FLO PRIST)
  • Biocida Kathon FP1.5
  • Fabricante: Hoffman-Taff, Inc
  • O. Box 1246
  • Springfield, MO – 65805
  • USA
  • BIOCIDA: BIOBOR JF
  • Fabricante: US Borax and Chemical Corp
  • O. Box 2781
  • Terminal Annex
  • 3075 Wilshire Blvd.
  • Los Angeles, CA – 90010
  • USA
  • DETECTOR MICROBIOLÓGICO: HUM BUG DETECTOR KIT
  • Fabricante: Hammonds Technical Services, Inc
  • 15760 West Hardy Road, Suite 400
  • Houston, TX – 77060
  • USA

Glossário – Corrosão Microbiológica em Aeronaves

Aditivos (combustível)

Substâncias adicionadas ao combustível para prevenir ou corrigir problemas. No contexto da corrosão microbiológica, incluem produtos biostáticos (previnem o crescimento) e biocidas (eliminam as colônias já existentes).

Aeróbios

Microrganismos que precisam de oxigênio para viver. Podem colonizar superfícies internas dos tanques, especialmente na interface entre água e combustível.

Água dissolvida

Água misturada ao combustível em nível molecular. Em certas condições, pode decantar e formar água livre, favorecendo gelo em filtros e o crescimento microbiano.

Água no combustível

Presença de água (dissolvida, suspensa ou livre) no combustível. É o principal facilitador da proliferação de microrganismos e, por consequência, da corrosão microbiológica.

Anaeróbios

Microrganismos que se desenvolvem sem oxigênio. Podem participar de processos corrosivos em zonas com pouco ar dentro dos tanques.

Análise microbiológica

Exame de amostras de combustível para identificar a presença e a quantidade de microrganismos. Deve ser feita quando houver sedimentos/limo, água acima do limite recomendado ou periodicamente por horas/tempo de operação.

Anticongelante (biostático)

Aditivo preventivo que, além de reduzir formação de gelo, cria ambiente desfavorável ao crescimento de microrganismos quando usado nas proporções indicadas.

Biocida

Produto corretivo aplicado para matar colônias já estabelecidas e estérilizar o tanque. Após o tratamento, é essencial monitorar filtros devido à decantação de resíduos.

Biobor JF

Exemplo de biocida utilizado para tratamento corretivo da contaminação microbiológica em tanques de combustível.

Biostático (produto)

Aditivo usado de forma preventiva para inibir a multiplicação de microrganismos, reduzindo a probabilidade de colonização e corrosão.

Células de combustível

Compartimentos ou volumes que armazenam o combustível da aeronave. Podem acumular água e impurezas, tornando-se favoráveis ao crescimento microbiano.

Condensação

Transformação do vapor d’água em água líquida no interior dos tanques, especialmente por variações de temperatura. Fonte comum de água no combustível.

Contaminação microbiológica

Presença e crescimento de microrganismos (bactérias e fungos) no sistema de combustível, formando limo/lodo que pode causar corrosão, entupir filtros e afetar bombas.

Decantação

Processo pelo qual a água dissolvida se separa do combustível e se acumula como água livre no fundo do tanque, criando ambiente ideal para microrganismos.

Detector microbiológico (HUM BUG)

Kit de teste que auxilia na verificação rápida da presença de microrganismos no combustível, orientando ações de prevenção ou correção.

Drenagem dos tanques

Procedimento de remoção de água e impurezas dos pontos baixos dos tanques. Deve ser realizada rotineiramente (por exemplo, diariamente) e sempre após abastecimentos suspeitos.

Filtros de combustível

Elementos que retêm partículas e contaminantes. Podem obstruir-se por lodo microbiológico, causando queda de pressão e panes no sistema de combustível.

Interface água–combustível

Superfície de contato entre a água (no fundo) e o combustível (acima). Região preferencial para a vida e a alimentação de microrganismos.

Kathon FP1.5

Biocida usado no tratamento corretivo para eliminar colônias microbianas estabelecidas em sistemas de combustível.

Lama microbiológica (lodo)

Camada lodosa formada por secreções e resíduos do metabolismo microbiano. Acumula-se no fundo do tanque e acelera a corrosão.

Manutenção (comunicação)

Aviso formal à equipe de manutenção quando há suspeita ou confirmação de água, sedimentos, limo ou contaminação, para ações de inspeção e tratamento.

Metabolismo microbiano

Conjunto de reações pelos quais microrganismos consomem hidrocarbonetos, sais, impurezas e até selantes, liberando substâncias que favorecem lodo e corrosão.

Microrganismos

Bactérias e fungos que colonizam tanques e linhas de combustível. Podem ser aeróbios ou anaeróbios e se proliferam na presença de água.

PPM (partes por milhão)

Unidade de medida de concentração. Para água no combustível, valores inferiores a um limite recomendado (por exemplo, dezenas de PPM) indicam baixo risco de proliferação microbiana.

Prist (HI-FLO PRIST)

Produto com ação anticongelante e biostática, indicado de forma preventiva para dificultar o crescimento microbiano nos tanques.

Selantes de tanques

Materiais aplicados para vedar tanques integrais. Podem servir de “alimento” para alguns microrganismos, contribuindo para o lodo e a corrosão.

Tanque integral

Tanque formado pela própria estrutura da asa ou fuselagem. É suscetível a contaminação e corrosão interna quando há presença de água e microrganismos.

Umidade

Vapor d’água presente no ar. Ao entrar no tanque e condensar, torna-se fonte de água livre, favorecendo contaminação microbiológica.

Verificação de água (teste)

Checagem rotineira do combustível para detectar água. Se detectada, deve-se rejeitar o abastecimento ou drenar e registrar o evento para inspeção.


FAQ – Perguntas Frequentes

P: Por que a presença de água no combustível é tão crítica para a corrosão microbiológica?

R: Porque a água cria o ambiente ideal (interface água–combustível) onde bactérias e fungos vivem e se multiplicam, formando lodo que acelera a corrosão e entope filtros.

P: Qual a diferença entre biostático e biocida e quando usar cada um?

R: Biostático previne o crescimento e é usado de forma contínua e preventiva. Biocida elimina colônias existentes e é aplicado quando a contaminação já foi detectada.

P: Por que é necessária drenagem diária dos tanques?

R: Para remover água e sedimentos que se acumulam nos pontos baixos, reduzindo o risco de proliferação microbiana e de gelo em filtros.

P: O que pode indicar contaminação microbiológica antes de um teste específico?

R: Presença de sedimentos/limo na drenagem, filtros escurecidos/entupidos, histórico de operação em locais quentes e úmidos e amostras com aspecto turvo.

P: Por que valores baixos de água (em PPM) reduzem o risco?

R: Em concentrações muito baixas, os microrganismos não encontram condições para formar colônias estáveis, diminuindo a chance de corrosão e obstrução.

P: Após aplicar biocida, por que devo inspecionar filtros?

R: Porque as colônias mortas e o lodo decantam e podem migrar, acumulando-se no elemento filtrante e causando obstrução temporária.

P: Abasteci e detectei água no teste. O que fazer?

R: Recusar o combustível e solicitar outro fornecimento. Se não for possível, drenar os tanques e registrar o caso para avaliação da manutenção.

P: Em que pontos a água entra no tanque?

R: Por condensação do ar interno, decantação da água dissolvida, falhas de vedação da tampa e equipamentos de abastecimento mal mantidos.

P: Por que tanques integrais são citados com frequência nesse problema?

R: Porque acumulam água e impurezas na própria estrutura da aeronave, favorecendo zonas de estagnação onde o lodo se forma e ataca o material.

P: Com que periodicidade devo fazer análise microbiológica?

R: Sempre que houver sinais (sedimentos/limo, água acima do limite) e, preventivamente, em intervalos periódicos definidos por horas de operação ou meses.

P: Em regiões quentes e úmidas, o que muda no controle?

R: A atenção deve ser redobrada: drenagens mais rigorosas, verificação de água frequente, uso preventivo de biostáticos e cultura periódica de amostras.

P: O combustível JET é mais suscetível que a gasolina de aviação?

R: Sim. Pelo teor aromático, o JET tende a absorver mais água, o que aumenta a chance de crescimento microbiano se não houver controle adequado.


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Manual FAA Corrosão e controle (Traduzido)

Exercícios corrosão em aeronaves

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